O que é o Glaucoma ? Como é seu tratamento ?
- Entendendo o Glaucoma: Causas e Tipos
O glaucoma é uma neuropatia óptica característica que cursa com a perda do campo visual progressiva e pode levar à cegueira irreversível. O mais intrigante dessa doença é sua capacidade de avançar sem levar o paciente a ter sintomas. Muitos já ouviram falar que o glaucoma é a pressão alta nos olhos, o que não está totalmente errado, a maioria dos glaucomas apresenta sim pressão intraocular alta, mas nem sempre, e essa pressão alta nos olhos não vem acompanhado de sintomas como dor nos olhos ou dor de cabeça, salvo alguns subtipos de glaucomas que são mais raros. Portanto, diferentemente da pressão arterial (PA), a pressão intraocular (PIO) não costuma dar sintomas . Os dois principais subtipos de glaucoma são o de ângulo aberto e ângulo fechado. A prevalência do glaucoma de ângulo aberto é por volta de 2.4%, já o de ângulo fechado é de 0.1 a 0.3%. Vale darmos uma pincelada sobre o glaucoma de ângulo fechado que, apesar de ser menos prevalente, é mais sério e leva mais frequentemente à cegueira. Nos casos de ângulo fechado, o sistema de drenagem ocular pode ficar obstruido parcialmente ou totalmente. Nos casos da obstrução parcial, o aumento de pressão pode ser o suficiente para gerar dor (nos olhos ou na cabeça). Nos casos de obstrução total a dor pode ser intolerável, vir associado com ânsia de vômito e necessidade de procurar um Pronto Atendimento. Chamamos esse último caso mais dramático de fechamento angular agudo, ou crise de glaucoma agudo.
Mas fora esse subtipo de glaucoma, os de ângulo aberto podem apresentar pressões altas de até 40 mmHg sem nem sequer sentir dor nos olhos, pois provavelmente essa pressão veio subindo lentamente ao longo dos anos.
Diagnóstico Precoce: Como Ele Pode Salvar Sua Visão
Por ser uma doença ocular crônica, podemos detectá-la em qualquer um de seus estágios, seja leve, moderado ou avançado. Como sabemos que o glaucoma não é reversível, a melhor fase para detectarmos é quando a doença ainda não avançou e temos a oportunidade de tratar antes mesmo de surgir qualquer deficiência visual, de modo que muitos pacientes com glaucoma vivem uma vida normal. Hoje em dia temos à nossa disposição exames como a Tomografia de Coerência Óptica (OCT) que permite uma varredura em micrômetros das fibras do nervo óptico e da espessura das células ganglionares, exatamente a célula que degenera com o glaucoma. Assim, temos a oportunidade de documentar e medir essas fibras e acompanhar ao longo do tempo para saber se está havendo progressão ou estabilidade da doença.
Uma outra métrica que utilizamos no consultório é a medida do campo visual, que corresponde à função do nervo óptico. Em um glaucoma estável, o campo visual tende a se manter parecido e com os índices globais em um mesmo patamar ao longo dos anos. Em um glaucoma não controlado esses índices e o aspecto do campo visual deteriora e temos que agir para reduzir ainda mais a pressão intraocular.
Tratamentos Disponíveis para Glaucoma em Maringá
O nível da pressão intraocular (PIO) pode variar bastante na população humana. Um estudo epidemiológico clássico de Rotterdam definiu que a PIO varia de acordo com uma curva de Gauss, tendo a mediana por volta de 15mmHg e com dois desvios-padrão a cima e a baixo temos uma normalidade estatística que gira por volta de 11-21mmHg. Dessa forma, academicamente dividimos os pacientes com pressão normal (abaixo de 21mmHg) e os hipertensos oculares (acima de 21 mmHg). Em um estudo chamado Ocular Hypertension Treatment Study (OHTS) por volta de 29% dos olhos hipertensos oculares desenvolveram glaucoma ao longo de 20 anos de acompanhamento. Portanto um hipertenso ocular apresenta certo risco de desenvolvimento de glaucoma, e para analisarmos esse risco é preciso levar em consideração muitos fatores, como idade, presença de familiares com glaucoma, espessura da córnea, miopia, entre outros.
Como regra geral quando fechamos o diagnostico de glaucoma ou iremos tratar um hipertenso ocular estabelecemos uma meta de redução da pressão em 20 ou 30% e acompanhamos a partir daí. Existem diversas classes de colírios hipotensores, como os beta-bloqueadores, inibidores de anidrase carbônica, alfa-agonistas e análogos de prostaglandina. Todos os colírios são eficazes em reduzir a pressão, alguns com maior potencia, outros com perfil de efeitos colaterais mais incômodos, e nesse aspecto somente com uma avaliação cuidadosa para saber qual é a melhor classe.
Além dos colírios temos a trabeculoplastia seletiva à laser (SLT), que é um laser indicado nos casos de ângulo aberto para realizar a limpeza e desobstrução da malha filtrante interna do olho. Em alguns casos , embasados por literatura rosbusta, podemos iniciar o tratamento com Laser ao invés de colírios.
E por último encontram-se as opções cirúrgicas do glaucoma. A cirurgia tradicional de glaucoma chama-se trabeculectomia , no qual criamos uma via alternativa de drenagem do líquido do olho , através dos vasos linfáticos da conjuntiva (parte branca superior do olho). Nessa cirurgia temos a formação de uma bolha filtrante que alivia a pressão do olho. Há pouco mais de 10 anos tivemos uma revolução no tratamento do glaucoma com a introdução de um conceito de cirurgia microinvasiva de glaucoma (MIGS) que permitiu que operássemos pacientes com pressões altas mas ainda sem glaucoma grave sem a necessidade de uma intervenção mais agressiva como a trabeculectomia. Essas cirurgias utilizam dispositivos microscópicos como o iStent, ou lâminas micrométricas (Kahook Dual Blade) para remoção da malha trabecular e reduzir a pressão intraocular. A recuperação dessas cirurgias é mais rápida e os riscos menores.
Cuidados e Acompanhamento com Oftalmologista Especializado em Glaucoma
O glaucoma pode ser acompanhado com qualquer oftalmologista, pois, na nossa formação acadêmica temos muito contato e experiência com essa doença. O especialista em glaucoma consegue ir além e se aprofundar em casos mais raros, doenças de mais difícil controle e sabe tratar o glaucoma com cirurgia e laser.
Dito isso, cabe ao paciente se conscientizar que trata-se de uma doença crônica e incurável, que demanda atenção e visitas regulares ao oftlamologista para realização dos exames de controle (OCT e Campo Visual) para o tratamento adequado .